O farelo de soja é obtido a partir da moagem dos grãos de soja, para extração do óleo, que é destinado para consumo humano, e representa um dos ingredientes de maior importância utilizado em rações animais O teor de proteína bruta do farelo de soja varia no mercado e pode ser ajustado através da retirada ou adição de casca, por isto é importante o controle de qualidade do ingrediente quanto ao teor de proteína bruta e fibra. O controle do teor de cinzas ou matéria mineral também é muito importante para prevenir fraudes e adulterações.
O farelo de soja passa por tratamento térmico para eliminar alguns fatores anti- nutricionais presentes na soja crua. Estes fatores podem ser termolábeis: lecitinas, inibidores de tripsina, indutores de bócio e anti-vitaminas e os termoresistentes: saponinas, taninos, antígenos, estrógenos, oligossacarídeos, polissacarídeos, almidonados (NSP),fitato e β-mananos.
O ponto crítico na avaliação da qualidade do farelo de soja é determinar se o tratamento térmico foi adequado. Atualmente os ensaios químicos mais utilizados para esta avaliação são: atividade ureática e solubilidade protéica em KOH (hidróxido de potássio), que já são de uso rotineiro nos laboratórios. Controles complementares como: fator anti-tripsina e proteína dispersável em água, já apontam como tendências de uma avaliação complementar que dará subsídios maiores aos nutricionistas.
ATIVIDADE UREÁTICA
A metodologia consiste em determinar a redução na atividade da enzima urease, presente no grão de soja, que é destruída pelo calor. Existe uma correlação direta entre os fatores antinutricionais e a urease; ambos são termolábeis, destruídos pelo calor. Portanto com a inativação da enzima urease teoricamente os fatores antinutricionais estariam destruídos. De uma maneira geral essa análise determina se o farelo de soja recebeu processamento térmico suficiente para inativar os fatores antinutricionais presentes no grão de soja.
O método está baseado na liberação de amônia da uréia pela ação da enzima urease presente no soja. Uma amostra subprocessada, dará uma grande mudança no pH, enquanto uma superprocessada, não registrará mudanças no pH. O método funciona muito bem para identificação de subprocessamento, mas apresenta falhas na identificação de superprocessamento, neste caso para se chegar a uma conclusão são necessários testes complementares para avaliação.
A classificação do farelo de soja pelos valores obtidos de atividade ureática, estão assim distribuídos: um farelo de soja classificado como excelente: 0,01-0,05, regular: 0,21-0,31 e deficiente >0,30.
Neste ensaio o pH das soluções, tempo, reações enzimáticas e temperatura do banho termostático devem ser rigorosamente observados, pois são fatores críticos para a precisão da análise. Assim como, um potenciômetro de boa qualidade, com uma boa resolução e estabilidade nas leituras por estarmos trabalhando com uma variação de pH muito pequena.
SOLUBILIDADE PROTÉICA OU PROTEÍNA SOLÚVEL EM KOH (HIDRÓXIDO DE POTÁSSIO)
A proteína solúvel é aquela disponível para a absorção pelo animal. O grão de soja pode apresentar até 100% de sua proteína bruta, solúvel em KOH. Contudo, observamos que a medida que submetemos o grão de soja ao processamento térmico, verificamos uma queda na solubilidade da proteína e consequentemente uma queda na disponibilidade da proteína e dos aminoácidos para os animais.
O método envolve a determinação da solubilidade com solução de KOH 0,20 % ou 0,036 M. O principio do método se baseia na reação dos grupos amino livres que reagem com outros grupos para formar pontes peptídicas, que reduzem a solubilidade da proteína.
Algumas etapas do método devem ser padronizadas para que tenhamos repetibilidade e reprodutividade. A solução de hidróxido de potássio 0,036M dever ser preparada e ajustada na concentração exata. A amostra de farelo de soja deverá ser moída em peneira 0,5mm, a agitação realizada em Agitador tipo Wagner ( por tombamento), na rotação de 25-35 rpm. São considerados valores aceitáveis de solubilidade protéica: excelente acima de 85%, entre 80-75 % bom e de baixa qualidade < 75%
ÍNDICE DE DISPERSIBILIDADE PROTÉICA
O índice de dispersibilidade protéica determina o quanto a proteína presente na soja é solúvel em água nas condições do método. Neste método a rotação especificada é 8500 rpm , necessitando de um agitador com rotação controlada. Os resultados são mais consistentes, é um indicador bastante sensível quanto aos requisitos mínimos de processamento térmico do farelo de soja quando comparados com a atividade ureática e a solubilidade.
O método é oficial pela AOCS, mas pouco utilizado na avaliação da qualidade do farelo de soja pois não temos um padrão definido de especificação de qualidade do farelo de soja. O valor preconizado como bom seria acima de 30%, mas não há um histórico de resultados para estabelecimento de um padrão, um farelo de soja de 40-45 % seria de excelente qualidade.
FATOR ANTI TRIPSINA
A determinação do inibidor de tripsina é um teste indireto de avaliação do inibidor de tripsina (TI) o qual é um dos fatores antinutricionais cruciais encontrado no farelo de soja. As metodologias disponíveis são a ISO 14902: Determination of trypsin inhibitor activity of soya products e o método da AACC: Official Trypsin Inhibitor Method 22_40. Da mesma forma que o índice de dispersibilidade protéica, não temos um padrão definido como especificação. Testes realizados sugerem que valores abaixo de 2mg/g e solubilidade mínima de 78% seriam de uma farelo de soja de boa qualidade, da mesma forma alguns testes sugerem a faixa de 1,65- 2,35 mg/g como valores aceitáveis para anti tripsina, atividade ureática de 0,00-0,050 e solubilidade protéica na faixa de 80-85%.
Frente as atuais necessidades de formulação otimizada e rendimento dos animais, se faz necessário implantar e intensificar os controle de fatores antinutriconais no farelo de soja, que hoje ainda não fazem parte da rotina dos laboratórios, como: fator antitripsina e índice de dispersibilidade protéica, para uma avaliação completa e efetiva.
Referências bibliográficas:
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